D R A M A T
U R G I A
_ AÇÕES EM TRABALHO
A palavra
“texto”, antes de se referir a um texto escrito ou falado, impresso ou
manuscrito, significa “tecendo junto”. Neste sentido, não há representação que
não tenha “texto”.
Aquilo que diz respeito ao texto
(a tecedura) da representação pode ser definido como “DRAMATURGIA”, isto é,
drama-ergon, o “trabalho das ações” na representação. A maneira pela qual as
ações trabalham é a trama.
Na
dramaturgia de uma representação, nem sempre é possível diferenciar o que é
“direção” e o que o autor “escreveu”.
Essa distinção é clara apenas no teatro que procura interpretar um texto escrito.
A diferenciação entre dramaturgia autônoma do
espetáculo, remonta a Aristóteles quando trata da tradição da tragédia grega.
Ele chamou a atenção para dois campos diferentes de investigação, os textos
escritos e o modo como eles são representados. A ideia de que existe uma
dramaturgia que é identificável apenas num texto escrito autônomo e que a
matriz da representação é uma consequência daquelas ocasiões na história,
quando a lembrança de um teatro foi passada adiante por meio de palavras ditas
pelas personagens em suas representações. Tal distinção não seria mesmo
concebível se fossem as representações em sua integridade que estivesses sendo
examinadas.
Numa representação, as ações (isto é, tudo que
tem a ver com a dramaturgia) não são somente aquilo que é dito e feito, mas
também os sons, as luzes e as mudanças no espaço. Num nível mais elevado de
organização, as ações são os episódios da história ou as diferentes facetas de
uma situação, os espaços de tempo entre os clímax do espetáculo, entre duas
mudanças no espaço – ou mesmo a evolução da contagem musical, a mudança da luz
e as variações do ritmo e intensidade que um fator desenvolve seguindo certos
temas físicos precisos (maneira de andar, de manejar bastões, de usar maquiagem ou figurino). Os objetos
usados na representação também são ações. Eles são transformados, adquirem
diferentes significados e colorações emotivas distintas. Todas as relações,
todas as interações entre as personagens ou entre as personagens e as luzes, os
sons e o espaço, são ações. Tudo que trabalha diretamente com a atenção do
espectador em sua compreensão, suas emoções, sua cinestesia, é uma ação.
A
lista poderia ser longa. Não é tão importante definir o que é uma ação ou
quantas existem numa representação. Importante é observar que as ações só são
operantes quando estão ENTRELAÇADAS, quando se tornam textura: TEXTO.
A trama pode ser de dois tipos. O
primeiro tipo é conseguido pelo desenvolvimento de ações no tempo por meio de
uma concatenação de causas e efeitos, ou através de uma alternância de ações
que representa dois desenvolvimentos paralelos. O segundo tipo ocorre somente
por meio da simultaneidade: a presença simultânea de várias ações.
Concatenação e simultaneidade são
as duas dimensões da trama. Elas não são duas alternativas estéticas ou das
dimensões da trama. Elas são os dois polos cuja tensão e dialética determinam a
representação e sua vida: ações em trabalho – dramaturgia.
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